2012-10-24

De volta à origem

Por diversas vezes imaginei um começo para este texto. Algo como um regresso às origens, um retorno, um deixar para trás daquelas terras malditas, as expectativas do que perderia e aquilo que realmente perdi.
Não foi a primeira vez que mudei. Há uns anos também larguei aquilo que tinha. Não vou dizer que fui à procura de algo, da independência, de um sonho, de um projecto. Fui porque tive de ir. Contrariado, para uma cidade, maldita, tal como a apelidava... tal como ainda a apelido.

Sim, por diversas vezes imaginei o início deste texto. E mesmo querendo contar uma série de coisas, mesmo querendo enumerar as dificuldades, as vitórias, as histórias tal como as ia organizando no pensamento, mesmo querendo, perdeu a importância...

Fui para baixo com uma mala. Uma pequena mala verde, como quem vai passar férias longínquas. Fiquei com os meus tios nos primeiros tempos. Mudei-me novamente, desta vez para um quarto. Já não era só uma mala, e ainda assim, foi simples. Três meses passaram e voltei a mudar. Desta vez, a pequena mala passou a ser só uma mala. Ao fim de quatro anos, voltei ao ponto de partida. A mala transformou-se, ganhou forma, e com muita imaginação (justificando finalmente as inúmeras horas de Tetris, jogadas aquando miúdo), trouxe um T0 na parte de trás de um pequeno Fiat Bravo. Não foi uma mudança simples; atribulada em alguns sentidos; e o regresso continuou numa correria, ainda que pouco tempo depois tivesse finalmente férias num local calmo.
Durante muito tempo pensei naquilo que tinha deixado para trás. Naquilo que tinha perdido, no retrocesso, na falta de expectativas. Deixei-me arrastar num turbilhão de pensamentos, de sentimentos, num despertar para as coisas que sabia que ia largar mas que ainda não as tinha sentido. E no meio disto tudo, perdi a perspectiva. Não se trata do que ficou para trás, não se trata do futuro e das incertezas que este acarreta, mas sim destes quarto anos.

Fui para Lisboa em de Junho de 2008. Em Agosto deste ano de 2012, voltei a casa. É irónico, sendo eu engenheiro informático, estando habituado a procurar bugs, a fazer questões de como, quando, porquê, não ter percebido que o problema não está no que ficou para trás...

Quatro anos, não cabem dentro de uma mala.

2012-06-11

07:30

Hoje perdi um comboio. Não é que já não me tivesse acontecido, aliás, por diversas vezes perdi comboios pelas mais variadas razões, mas este é especial. É a mesma rotina, o mesmo comboio, a mesma estação, o mesmo destino, mas hoje foi diferente.

Não sei se foi sempre assim, mas posso-me considerar uma pessoa lamechas. Quando era pequeno imaginava passear de mão dada por aqueles locais que servem de fundo aos filmes românticos, jantar nos mesmos sítios que montam o argumento e que ainda hoje não sei se realmente existem, e acabar o dia ao lado da pessoa que me faz feliz. Talvez seja aquilo que gostávamos de ter como um dia perfeito, estendido na pequena mente de quem ainda via a vida de forma simples, mas mesmo assim, lamechas.

Lembro-me de olhar para as pessoas a usarem anéis quando estavam no início de uma relação, no início dos sonhos de uma vida juntos, de um dia poder casar. Olhava para elas e pensava "um dia, quando namorar, também quero usar um".
Anilhados; coisa sem jeito; alianças é só no casamento; algo que só serve para gastar dinheiro e dizer "eu namoro" a quem não se conhece; as críticas são muitas e provavelmente cheias de razão à maioria dos casos e mesmo assim achava uma certa piada à ideia, mesmo estando a cair na gaveta daqueles que ficam felizes de a usar apenas porque amam a outra parte e compram a aliança porque os outros também a compraram

Pode parecer estranho mas sinto necessidade desse pedaço de metal... De ter algo que possa agarrar, que possa de alguma forma mostrar-me aquilo que tem sido construído; sinto falta de olhar para ele e pensar que mesmo sem dias perfeitos, comprometi-me. "it's a covenant"


Sou lamechas, e hoje perdi um comboio. Não quero perder mais...

2012-05-05

Numa mesa de café

Encontro-me neste momento num café, de mesas relvadas e paredes a condizer. Com as artimanhas de bits e bytes, e apesar de este texto nunca ser publicado imediatamente após a sua escrita (a ligação ao mundo, por vezes, é demasiado terrena e não perceptível para quem apenas entende de zeros e uns) digamos que as horas, a data, aquilo que matematicamente define um momento, se manterá fiel à origem do mesmo.

O local, apesar de definido, não é importante. Podia ser um café, um restaurante, um jardim ou uma praia, enfim, uma imensidão de sítios, os quais a minha imaginação não quer descrever. A companhia, por outro lado, essa sim, importa...

Não a descrevo, não encontro palavras. O meu forte é a linguagem das máquinas e não a dos homens. Ifs, then, elses, for whiles e afins, pequenos blocos de tijolo deste universo digital (e se “afins” não faz parte, talvez devesse. Justificar-se-ia como after insert e seria mais uma forma de nos confundir a mente quando impomos a nossa forma de pensar). Não, não sei as palavras e nem o dicionário ajuda. Talvez pudesse programar, mas seria apenas uma fraca demonstração daquilo que não sei fazer.

«irrompes o meu pensamento na ânsia de ler as minhas ideias... tem calma. Não forces o processo criativo de sentir a pressão dos pedaços de plástico impresso.»

Sim, este texto é para ti. Persuadiste-me. Obrigaste-me. Descobriste-me... descobri-me. Lembro-me da fraca analogia de seres o meu posto de turismo, de me levares aonde não conhecia, de me mostrares aquilo que tinha para dar... sim, a analogia é fraca, mas a ideia subjacente não.
E se lá fora temos a estação de comboios, aqueles carris imensos que começam e acabam em locais desconhecidos, contigo viajo para fora deles, ultrapasso os limites que me ensinaram, os limites da minha própria imaginação. Não direi aquilo que tanto te digo. Perdeu valor, tornou-se mundano, igual a tantas outras entoações proferidas por tantos outros seres. Mas sabes, e sentes...

...e eu sentirei contigo.

2012-02-21

Final do dia...

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.


Só nas minhas mãos
oiço a música das tuas.







Eugénio de Andrade
"Coração do dia"

2012-01-31

Apenas dois..

Há algo engraçado na vida de uma pessoa. Algo que só o próprio poderá vivenciar mas ainda assim, algo engraçado. Há uns anos atrás não imaginava como seria o futuro, e curiosamente, hoje, não imagino como seria o passado. A nostalgia tem uma vontade própria de nos levar apenas aos locais que lhe interessa e eu assumo que ela saberá aonde nos leva...

Devo dizer que isto não pode, nem deve, ser entendido como algum regresso ao passado, mas não queria cair nesse erro. Tal como um livro apenas contêm aquilo que lhe é devido, um espaço como este também deveria conter apenas aquilo que lhe é devido e tudo o que vem posteriormente, vem sempre em forma de anexo, de uma página a mais que quebra a harmonia já existente... Acredito que o mesmo não se aplique tão fielmente aos bits e bytes deste pequeno cantinho no meio do universo dos seus irmãos mais velhos e portanto, tal como tinha referido, não é, nem deve, ser entendido como um regresso ao passado..

Com três pontinhos se acaba, é certo, mas a verdade, é que ainda só escrevemos dois. Reservemos o terceiro para o futuro