2006-11-13

Curtas

Hoje, vou deixar algo diferente por aqui. Tal como o nome indica, são curtas, mais propriamente duas, e com algum sentido de ironia, este não vai ser um texto curto. Se algum dia saírem do papel e se este cantinho ainda existir, talvez e apenas talvez (pois podem calhar muito mal) as deixe por aqui...


Bar ( ~ 3, 4 minutos)

Um pequeno bar como outros tantos. Alguma classe, admito. O som de um “slow jazz” entoa pelo ar. Talvez dê uma ideia do aspecto dele, talvez não. Ao balcão encontra-se uma mulher de vestido vermelho. Aquele tipo de mulher que só se vê uma vez na vida, e que mesmo dessa vez, se fica a pensar se realmente se viu ou se apenas foi um sonho...
Um sujeito entra no bar. Pelo aspecto, diria que não vem cá muitas vezes. Alias, tem um aspecto um pouco tosco, inseguro talvez. Repara nela. Olha como se fosse um daqueles momentos de um filme: a mão a passar lentamente pelos cabelos descontraídos... o olhar inocente para um nada no meio de um tudo...
Volta a si. Aproxima-se do balcão, senta-se ao lado dela, e pede um café. Não retira os olhos do balcão. Quer olhar para ela mas não consegue. A timidez não o deixa. Olha agora para a chávena. Deita o açúcar, começa a mexer. Antes de pegar nela, deita um pequeno olhar escondido para a moça... bebe o café sem hesitar.
Uma tontura toma-lhe conta da mente. Expira calmamente, põe-se confortável e olha para o lado. Não diria que uma mulher daquelas olha-se para ele, mas aquela mudança de postura deixou-lhe alguma inquietação.
Numa voz firme, sem receios, sem medo, sem hesitação, ele começou a falar.
- Dizem que as flores são belas numa tarde resplandecente de primavera e mesmo assim a tua beleza as ofusca. Nem a suavidade da pétala da rosa se consegue equiparar à doçura do teu olhar...
Ela ouve-o... o espanto de tais palavras não chegam para esconder o discreto sorriso que a pouco e pouco se vai esboçando no rosto.
- ... nos teus cabelos percorro com a alegria de criança numa tarde de Outono de sol dourado, dos tons castanhos das doces espigas de... de...
A tontura... a mesma que lhe tinha dado de inicio, mas mais forte. As últimas palavras entoavam na cabeça como se tratassem de sinos de uma igreja a tocar.
- Sim?, perguntou ela de voz suave e olhos brilhantes à espera que ele terminasse.
Meio desorientado, olha para ela, ainda sem saber bem o que se acaba de passar e no seu jeito desajeitado e ainda com o eco na mente, apenas lhe sai:
- Queres ver a minha espiga de milho?
A musica para abruptamente.
Um colossal estalo voa na direcção dele atirando-o do banco abaixo. Ela levanta-se e sai sem mais olhar para ele, como se não estivesse ali. Sentado no chão, de ar desanimado, deita a mão à cara dorida enquanto a outra mão, retira do casaco, uma pequena e dourada espiga de milho.
Olho para ele ao mesmo tempo que esboço um sorriso e um abano de cabeça... olho para o café moído. O sorriso acentua-se, assim como o abano... recolho a chávena e passo o pano no balcão.



Eu disse que ia deixar duas, mas se calhar deixo apenas esta. A outra é mais pequena mas ao contrário desta, não é bem cómica... mais séria, pensativa... daqui a uns dias.

PS: Para aqueles que ainda tiveram a pequena esperança que os minutos fossem os minutos de leitura, guardem-na, pois vão ser os minutos da curta... assim o espero

2006-11-06

Estupidamente contente

À falta de melhores palavras para descrever este meu estranho estado de espírito em que me encontro (e o dia começou mal com a preguiça a manter-me na cama por mais tempo do que devia como de costume) vou tentar descreve-lo:
Sinto-me com vontade de ir la fora e gritar bem alto gosto de ti... sinto-me com vontade de abraçar os meus irmãos até eles não aguentarem mais... sinto-me com vontade de comer gelado ao som da chuva... com vontade de a sentir a cair-me no rosto enquanto olho as estrelas... sinto-me com vontade de dançar, correr, pinchar até não poder mais... sinto-me com vontade de sorrir sem razão aparente...
Enfim, sinto-me contente, estupidamente contente... um final diferente em mais um dia normal.

2006-11-02

Sinais de vida

Talvez seja apenas por coincidência mas aquela linha que balanceia de um lado para o outro que tecnicamente representa o batimento cardíaco, os nossos sinais de vida, também poderia muito bem representar a vida de cada um: com altos e baixos, mais apressada, mais suave, mais ordenada, mais irregular... E se por acaso a vida começa a parar, a ficar monótona, a não ir nem para um lado nem para o outro, sentimo-nos a desaparecer... Coincidência ou não, quando aquela linha começa a parar, sem ir para um lado ou para o outro, também nos sentimos a desaparecer... Deixemos essas linhas para os cadernos e afins.